Vamos? Ora aí estão duas coisas que nunca imaginei fazer.
O mundo pensa que o papel de um escritor é solitário, imagina-se um erudito anti-social,
contemplativo, eremita, enfiado nas suas teclas, nos seus papéis. Por vezes, poder-se-á imaginar um bloqueio criativo e uma escapadela para algum lugar bucólico. Ou, por outro lado, visualiza-se um orador carismático, extrovertido, dando palestras motivacionais, toneladas de autógrafos. Sorriso fácil e aberto.
No ano passado, com mais curiosidade do que confiança, resolvi intrometer o meu nariz nesse
grupo Fringe e, mais em particular, no encontro Pedras Negras. É um momento de expansão imensa, digo-vos eu. Não de passeios turísticos desinteressados, sem foco, mas de conhecimento do meio envolvente em contexto, de arte, de criatividade, de cultura, de preservação. Não de galhofa, comida e bebida, mas de partilha, aprendizagem e ensinamento, carinho. De inspiração e de criação. Aqui nascem novos projetos, parcerias enriquecedoras, relações inesperadas e maravilhosas.
De tal maneira que quando me acenaram com Pedras Negras nas Flores eu não pensei sequer
na hipótese de não ir. Voltei a estar com essa gente franca, preocupada com o Mundo e interessada em passar a mensagem de uma ou outra forma.
Quero-vos falar de liberdade. De sermos livres até de nós mesmos. De sermos capazes de
ultrapassar essa falta de vontade de ir aqui e ali, fisicamente e não só, apenas porque os traços da nossa personalidade nos dizem que não é para nós. De sabermos o que somos e mesmo assim podermos romper com essas amarras. Tímidos? Pouco confiantes? Extravagantes? Distraídos?
O nosso comandante lança-nos desafios e nós fazemos o melhor para estar à altura. Mais
tarde, com um imenso respeito, pergunta-nos se foi difícil, se vale a pena. E, com mais ou menos palavras, por estas ou por outras, todos nós lhe respondemos com o lema dele: juntos fazemos mais. Reconhecimento seja feito ao comandante pela paciência e enorme vontade de desassossegar esta gente. A propósito, a resposta a todas as outras perguntas que aqui levanto é sempre a mesma, sejamos como formos, juntos fazemos sempre mais e melhor.
Tenho de dizer que adorei estes dias. A ilha verde que nos repelia com o seu clima opressivo
ficará sempre na minha mente. A ilha onde o cabelo fica encaracolado. Açores. Ser daqui. Literatura açoriana. Como não conhecem? Como não?
Por fim, e como já me sabem, como já me leram embora ainda não me tenham lido, deixo-vos
a circular interna: até o próximo ano, ficam memórias de sereias leitoras, todas vestidas de um azul imaginário; ficam na memória aqueles veículos igualmente azuis, uns mais cheirosos que outros e uns com mais travões também, em que partilhámos tanto; fica a concorrência na praia; fica a imagem pura da indignação perante o vulcão Carolina e mais tarde nova erupção durante o jantar mais longínquo de sempre, em que a Sandra nos presenteou com um pouco
de cultura da pintarola e o Diniz fez o bacalhau dar à luz.
Ficam textos maravilhosos e histórias
incríveis. E batêmo-las, batêmo-las por todo o lado. As fotos, as selfies, claro. Para recordar até lá, pois para o ano faremos mais.